domingo, 1 de janeiro de 2012

Ano novo, Fruto em flor!

Ilustração de Elina Carvalho


Quando o dia em que senti a textura de um pêssego em meus dedos de pouquíssima sofisticação, pensei que não só sabores os frutos nos dão: os saberes instaurados nas nervuras, os silêncios expandidos nos tecidos, as lembranças ressuscitadas nas sementes... Em seu denso existir de filhos da natureza, essa coisa nascida há milênios que nos tem íntimos, os frutos nos reinventam partícipes da dinâmica do mundo, porque morrem contidos e serenos na missão de nos ver nascidos para a experiência dos sabores e para a aprendizagem de saberes.

Assim como os frutos secretos que tratamos de explorar nos idos de nossos dias, os anos que nascem novos nos permitem a retomada de gostos, a descoberta de cores, a rejeição de sementes. A mordida que lhes damos na experiência de sua passagem é a honesta decisão de sermos humanos, absorvendo-lhes os riscos, os suores e as alegrias. Quem a flor que cheiramos? Qual a cor que queremos? Que sonhar, que viver?

Como quem sulca a terra afetuosamente, tomemos um punhado morno desses dias novos que nos chegam e façamos de nossas mãos um leito de rio apaziguado. Deixemos que o novo ano brote como um fruto em flor, aninhado e explosivo, quente e renovado. Estejamos dentro de seus dias como sementes cercadas de doçuras, com seus desejos de terra e planta, sol e raízes. Porque 2012 nos morde a vida e nos acorda para texturas diversas, sonhos despertos. Dele colheremos mel e fel, à medida do que semeamos, ou enterramos.

Eis um fruto novo!
Sabores e saberes a todos!